“Luta por conseguir que o Santo Sacrifício do Altar seja o centro e a raiz da tua vida interior, de maneira que toda a jornada se converta num ato de culto.”
— São Josemaria Escrivá

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Santa Missa e a nova evangelização

No dia 11 de outubro de 2011, dia da memória do Bem-aventurado João XXIII, o Santo Padre Bento XVI publicou a Carta apostólica sob forma de motu proprio Porta Fidei (“Porta da Fé”). Com esse documento, Sua Santidade convocou um Ano da Fé, com início em 11 de outubro de 2012 – aniversário de 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica – e término em 24 de novembro de 2013, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo.

Mas por que o Papa viu a necessidade de convocar um Ano da Fé?

Há décadas que uma crise generalizada se espalhou no seio da Igreja. Em sua Carta Pastoral por ocasião do Ano da Fé, recorda D. Javier Echevarría que “já desde a conclusão do Concílio Vaticano II entrevia-se o perigo de que, em amplos setores da Igreja, o entusiasmo gerado por essa Assembleia pudesse ficar em meras palavras, sem afetar profundamente a vida dos fiéis; ou que até, por causa de equivocadas interpretações e aplicações dos ensinamentos conciliares, o genuíno espírito cristão fosse sendo erroneamente assimilado ao espírito do mundo, em vez de elevar o mundo à ordem sobrenatural.” A quantidade de vocações sacerdotais e religiosas diminuiu de maneira preocupante, muitos abusos e equívocos foram cometidos – ora em nome de um falso “espírito do Concílio”, ora em nome da “Roma eterna” – e muitos fiéis se afastaram da fé.

D. Javier Echevarría

Nessas cinco décadas, o Concílio Vaticano II foi defendido por muitos como um divisor de águas dentro da Igreja – tanto que se usa frequentemente os termos “Igreja pré-conciliar” e “Igreja pós-conciliar” – que transformou a Barca de Pedro em algo completamente novo, que nada tem a ver com o passado, ou foi atacado nos termos mais duros como a “fumaça de Satanás dentro da Igreja”, como um evento que deformou a Igreja de modo profundo. Disputas à parte, algo inegável é que, nessas cinco décadas de oscilação e crise, muito pouco se procurou estudar os documentos conciliares e aplicá-los com fidelidade e à luz da Tradição da Igreja. A esse respeito, declarou o Papa Bento XVI:
Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa». Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja».
Além disso, é fato que “os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o patrimônio de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado”. A doutrina de Cristo, de quem Sua Igreja é guardiã, é perfeita e imutável; no entanto, as formas de transmissão da Boa Nova devem se adequar ao ambiente e aos tempos de modo a alcançar os corações dos homens. Diante da necessidade premente de “um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé”, o Papa Bento XVI também convocou a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema é “Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam – A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Papa Bento XVI durante a Missa de abertura da assembleia do Sínodo dos Bispos.

A nova evangelização tão desejada pelo Santo Padre, e tão necessária ao nosso mundo, não se destina propriamente às chamadas “terras de missão” – lugares que até então não tinham conhecimento de Cristo e Sua Boa Nova –, mas às terras que tiveram no Cristianismo seu principal alicerce e parecem ter se esquecido completamente de Deus. Se antes a principal tarefa de toda a Igreja – sacerdotes, religiosos e leigos – era aproximar as pessoas de Jesus pela primeira vez, hoje essa tarefa é reaproximar aquelas pessoas que, tendo participado do Corpo Místico de Cristo, viraram-lhe as costas pelos mais diversos motivos.

Dentro do espírito dessa nova evangelização, quis iniciar este blog para tratar de um tema que é essencial a todos os católicos e que é muito sensível, sobretudo no Brasil: a Santa Missa. É visível que, em muitas ocasiões, esquece-se o real significado do Santo Sacrifício do Altar. Não são raras as vezes em que a Santa Missa é vista e vivida como um evento meramente festivo cheio de alegorias e metáforas que, de alguma maneira, faz com que nos sintamos bem conosco mesmos, tendo como efeito secundário o louvor e a adoração a Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A esse respeito, São Josemaria Escrivá dizia em uma homilia:
Não revelo nada de novo se digo que alguns cristãos têm uma visão muito pobre da Santa Missa, que muitos a encaram como um mero rito exterior, quando não como um convencionalismo social. É que os nossos corações, tão mesquinhos, são capazes de acompanhar rotineiramente a maior doação de Deus aos homens.
Essa falta de consciência não se dá por maldade, certamente; entretanto, isso não diminui seu prejuízo aos fiéis. Se não sabemos viver a Santa Missa, a própria vivência cristã perde seu significado, e só podemos saber como tomar parte no sacrifício de Cristo Jesus se conhecemos com profundidade sua magnitude, importância e significado.

Assim sendo, este blog pretende ser uma catequese simples e direta, sem superficialidades, sobre o que significa a Santa Missa e como nós podemos participar dela de modo digno, profundo e verdadeiro, com piedade sincera e amor filial. Tudo o que aqui será publicado estará firmemente embasado nas Sagradas Escrituras, no Magistério e na Tradição da Igreja, e frequentemente recorrerei a escritos teológicos e espirituais diversos que não se desviem da ortodoxia da fé.

Que Nossa Senhora, Mater Pulchrae Dilectionis, Mãe do Amor Formoso, guarde-nos a todos sob sua dulcíssima proteção!

Um comentário:

  1. Excelente, Felipe. Conte com meu apoio. Se já o acompanhava pelo Juventude Conservadora da Unb agora o acompanharei ainda mais. Firmes na fé!

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