“Luta por conseguir que o Santo Sacrifício do Altar seja o centro e a raiz da tua vida interior, de maneira que toda a jornada se converta num ato de culto.”
— São Josemaria Escrivá

O autor

Meu nome é Felipe Melo, tenho 26 anos e resido em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. Sou estudante de graduação do curso de Administração da Universidade de Brasília e tenho uma constante inquietação intelectual, o que me faz mergulhar nos mais diversos assuntos não apenas por pura curiosidade, mas por saber que algumas coisas, sendo positivamente inúteis – ou seja, coisas cujo valor não se pode medir pelo seu potencial de instrumentalização –, devem ser conhecidas por possuírem valor em si mesmas.

Apesar de ter sido batizado em meu aniversário de 1 ano, fui educado dentro dos moldes da doutrina espírita de Allan Kardec. Dos 3 aos 20 anos de idade, meu contato com o espiritismo foi cotidiano. Além disso, fui paulatinamente sendo absorvido pelo pensamento socialista – Marx, Engels, Lênin e Trotsky eram minhas leituras de cabeceira. Sempre fui um sujeito declaradamente anti-católico, chegando a considerar que a Igreja Católica era seguramente a pior e mais cruel instituição já concebida pelo homem. Aos 20 anos, em virtude de um falecimento na família e uma sucessão de problemas que não convém desvelar aqui, ingressei em uma profunda crise pessoal e apaguei todo rasto de filosofia, religião e coisa semelhante de minha vida. Sentia que era necessário reavaliar tudo e que, nesse ínterim, não poderia abraçar e defender como minha nenhuma concepção de mundo.

Até os 25 anos, mantive-me nessa crise, que, ao contrário do que eu esperava, foi se agravando ao invés de amainar. Não fiz uma única oração durante esses cinco longos anos. No começo do ano de 2011, após muita reflexão – e, certamente, uma inaudita ajuda providencial da Trindade Beatíssima –, cheguei à seguinte conclusão: de todos os meus problemas, e não eram poucos, o pior deles era o meu afastamento de Deus, pois, além de ser em si mesmo um problema gravíssimo, fazia com que todos os outros problemas piorassem consideravelmente. No entanto, o menor desejo de fazer oração me fazia sentir-me um hipócrita, alguém que estaria praticando uma ação que, para si, ainda parecia sem efeito, inócua e despropositada. Ainda assim, controlei esse sentimento e fiz uma única oração ao Senhor: “Meu Deus, me mostra o caminho para Ti!”

Pode parecer estranho, mas, conscientemente, esqueci dessa oração. Mas Deus sabe conduzir Seus filhos respeitando sempre a sua liberdade pessoal, o livre-arbítrio por Ele mesmo concedido, e aos poucos eu obtive luzes divinas que culminaram num evento poderoso. Em fins de novembro, um grande amigo meu – de quem hoje sou padrinho de Batismo, uma honra da qual sei que não sou digno – me convidou para assistir a uma meditação conduzida pelo Pe. Rafael Stanziona, da Prelazia do Opus Dei. Minha única pretensão naquele dia era simplesmente cabular aula tendo algum amigo por companhia, de modo que o convite desse meu amigo veio muito a calhar. A meditação tratou da busca obstinada da felicidade e de como ela nos afasta da verdadeira felicidade, que consiste em abandonarmo-nos em Deus. Os exemplos utilizados pelo Pe. Rafael durante a meditação foram concretos e específicos, e parecia que ele os havia retirado da minha cabeça, pois eram coisas que, durante aquela mesma semana, ocupavam-me e me absorviam muito.

Por que uma meditação aparentemente tão simples – e, em muitos pontos, tão óbvia – foi para mim um evento poderoso? Porque eu tive certeza absoluta, e ainda a tenho, de que Deus respondeu o pedido que eu Lhe havia feito no começo do ano. Eu jamais havia tido a certeza de que Deus falara comigo antes, mas tudo foi tão claro, tão intenso, que foi como estar diante daquelas palavras do salmista: te est fons vitæ, et in lumine tuo videbimus lumen (Sl 35/36, 10). Em 3 de dezembro de 2011, após uma longa conversa com o Pe. Rafael, converti-me à fé católica. Recebi desse grande sacerdote, nos dias subsequentes, a preparação necessária para me confessar e, assim, comungar pela primeira vez. Na manhã do dia 25 de dezembro de 2011, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Taguatinga/DF, recebi o Corpo glorioso de Nosso Senhor Jesus Cristo pela primeira vez – e posso dizer, sem medo de ser leviano ou exagerado, que foi o pão mais doce que minha boca já provou.

Seguindo um plano mais ou menos estruturado de estudo doutrinal e muita oração, divisei que a vocação que talvez quisesse para mim fosse para o Opus Dei. Muitas pessoas me ajudaram a pensar em minha vocação de maneira cuidadosa, sempre buscando em Deus as respostas para as perguntas que surgiam dentro de mim. Repetindo as palavras do menino Samuel – ecce ego, quia vocasti me (1S 3, 5); loquere, Domine, quia audit servus tuus (1S 3, 9) –, o Senhor me revelou que, de fato, havia me chamado a servi-Lo na Obra de Deus. Pedi minha admissão como membro supernumerário na Solenidade da Anunciação do Senhor, e, mesmo não me tendo por merecedor de tão bela vocação, peço incessantemente a Deus que me dê forças para servi-Lo como um burrinho: “humilde, duro para o trabalho e perseverante, teimoso!, fiel, seguríssimo no seu passo, forte e – se tiver bom dono – agradecido e obediente” (S. Josemaria Escrivá, Forja, n. 380).